Spider

Introdução

Por Fernando Galan, Spain Art Critic & Editor, Director art.es Magazine.

“The spider, why the spider? Because my best friend was my mother and she was deliberate, clever, patient, soothing, reasonable, dainty, subtle, indispensable, neat, and as useful as a spider.” Louise Bourgeois.

A aranha é um símbolo milenar e universal com três significados principais: o poder criativo, exemplificado no tecido da sua teia; a agressividade aracnídea; e a teia de aranha como espiral que converge para um ponto central, a aranha imóvel no centro da sua teia simboliza o centro do mundo.

O simbolismo da aranha vai muito mais longe, entendendo-se como a contínua transmutação do ser humano ao longo da sua vida. Representa o ciclo contínuo de transformação e aparece nas crenças relativas à reencarnação. A aranha é um animal lunar porque a lua é identificada com o mundo dos fenómenos físicos e, a um nível psíquico, com a imaginação. É assim que, como símbolo aracnídeo, a lua tece o destino humano. Neste sentido, o nosso satélite é representado como uma aranha gigantesca em muitos mitos antigos.

Para os povos do Vale do Indo, a aranha era um símbolo da ilusão e da ordem cósmica, pois era considerada como fiandeira ou tecedeira do mundo somático e sensitivo. Alguns dos livros mais antigos dos povos desta zona garantem que as patas das aranhas, sempre a mexer-se com destreza e rapidez, conferem as suas próprias qualidades a quem precise desta habilidade: «Quando se toca um arrabil de uma só corda e os dedos não parecem ter jeito, o único remédio é capturar umas aranhas do campo de patas compridas, queimá-las e esfregar os dedos com as suas cinzas: isto vai tornar os dedos flexíveis e hábeis como as patas das aranhas».

Kwaku Anansi é filha de Nyambe, deus africano do céu e de Asase Ya, deusa da terra. Em tempos antigos, Anansi viveu como uma mortal, era cabecilha de uma tribo no actual Gana. Tinha poderes sobrenaturais, como a habilidade de se movimentar sobre as copas das árvores como uma aranha. Um dia decidiu escalar mais alto do que ninguém e subiu sem parar até descobrir que conseguia chegar ao céu, onde conheceu Nyambe, chefe dos deuses africanos. Anansi queria levar para a sua aldeia uma prova que demonstrasse que tinha estado no céu, mas Nyambe exigiu que lhe desse algo em troca. Anansi prometeu a Nyambe que o serviria para sempre se lhe permitisse levar os seus segredos para a terra. Nyambe aceitou e Anansi conseguiu voltar à sua aldeia. Anansi usou os segredos que tinha adquirido no céu para trazer a civilização para a sua aldeia e para cultivar a terra. Numa das suas aventuras, uma serpente gigante capturou-a e os seus seis filhos foram em seu auxílio, mas quando se livrou da serpente foi atacada por um grande pássaro. Os seus seis filhos libertaramna de novo. Agradecida, Anansi quis recompensar os seus filhos, mas foi incapaz de decidir qual deles tinha demonstrado uma maior coragem.

Incapaz de se decidir, recorreu a Nyambe para lhe pedir ajuda e este decidiu que o escolhido seria transformado no sol, e seria colocado bem alto no céu como recompensa eterna.

Hildebrando Melo era um mortal de Angola, dedicado à rara profissão de artista. Desde jovem, pintava sobretudo um dos seus ícones africanos preferidos: as árvores baobá. Até que, um dia, o filho de Anansi transformado em sol, com ciúmes da sua habilidade artística, lhe provocou uma insolação que o fez trepar até cimo de um baobá para depois fazer com que caísse dessa altura. Hildebrando Melo partiu todos os dedos das suas mãos e pareceu condenado a não poder voltar a pintar… Mas Nyambe, apiedado e lamentando que se perdesse um artista tão bom, pôs sobre a sua cama, enquanto dormia, um exemplar do tal livro do Vale do Indo. No dia seguinte, Hildebrando foi ao campo caçar aranhas, queimou-as e esfregou os seus dedos partidos com as cinzas. Os seus dedos curaram-se e voltou a pintar com frenesi. E assim surgiu a sua série de pinturas dedicada às aranhas…

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