Por Manuel Dionísio, Luanda, Angola. Jornalista, Critico de Arte, Escritor. Setembro, 2006.
“Toda a crítica é apenas uma metáfora, e a sua maior virtude é a de não o ignorar.” A. Casais Monteiro
Tento ver os quadros de Hildebrando de Melo como se fosse a primeira vez. Fecho os olhos. Apago as luzes interior do meu espírito, dou um tempo, acendoas de novo e abro os olhos. O que vejo?
Um sonho, um caminho cheio de curvas e alguns obstáculos, bifurcações, cruzamentos, lombas, entroncamentos e passagens de nível. Tudo sinalizado com um código peculiar de sinais. Há sentidos proibidos, passagens de peões e paragens obrigatórias, pessoas, carros, movimento, ruídos, luzes, confusão e um sentido determinante de ascensão.
Subindo, o ar vai ficando mais rarefeito, as cores mais fortes e cintilantes, as formas mais diluídas na névoa das alturas, passando o tecto de nuvens. Procuro uma nova perspectiva. Recuo um passo, dois. Evito a contraluz que neutraliza a pujança do brilho que se desfruta dois passos à esquerda. Et voila! Eis a essência da obra, o seu espírito. Molimo é isto. Espírito. O diálogo do criador com a sua obra. A que ele deu vida.
É um exercício místico, um sacramento mais e mais depurado, de obra em obra, de colecção em colecção, em cada nova exposição.
Molimo é a contrição e a acção de graças em simultâneo, um hino à grandeza do criador a à magnificência dos seus desígnios. De Corpo e Alma, Espírito, Absoluto, Molimo Deus. Quatro estações da Via Sacra de Hildebrando de Melo no caminho para a luz. Fecha os olhos de novo e deixo-me possuir pelas imagens. E sinto a onda de felicidade que transmite a obra de quem procurou e achou. E mostra como.