Imbondeiro

Francisco Van-Duném “VAN” Artista Plástico e Docente. | Luana, Angola

Uma visão crepitante sobre a arte de Hildebrando

Foi-me pedido um texto crítico sobre o lado artístico de Hildebrando de Melo.

O tal artista, crepitante parecido a sua arte. Nós os artistas, normalmente somos cognominados com vários atributos qualificáveis ou inóspitos, e que de acordo a natureza humana, esses “imputs” podem interferir de modo indelével armazenando no nosso subconsciente e no consciente, determinados processos e atitudes que sem nos aperceber, ao revalorizarmos a nossa arte, ela não é apenas nossa.

É também dos sépticos, dos críticos e da “mídia”. E, é desta maneira que leio as pinturas do Hildebrando de Melo, pelo menos há mais de dez anos que tenho vivenciado directamente as suas sensações criativas e modulares. Formas que as utiliza, alterando de modo contrastante de uma etapa para outra, mantendo a mesma personalidade. Mas, até onde vai o meu conhecimento, só é capaz de assim proceder o artista que crepita aquele que não morre à beira da praia, nem se conforma por pensar que inventou um estilo e logo a seguir torna-se monótono ou insípido. Todos conhecemos as mutações artísticas e crepitantes de Delaunay, Braque, Van Gogh, Picasso, ou dentre nós: Roberto Silva, Neves e Sousa, H. Abranches, Costa Andrade, Matondo Afonso, Viteix, e outros talentosos artistas sobejamente conhecidos. O percurso de Hildebrando, quanto a mim, assemelha-se aos de outros artistas talentosos (uns mais e outros menos jovens) que emergem por toda Angola, cuja missão eclética tem sido transformar constantemente as formas modulares das suas artes, tal como os poisos das aves nos dias de sol. Hildebrando, de mansinho, está a construir uma história interessante que deverá ser recontada nas futuras fogueiras dos artistas. Pois, ele tem sabido rebuscar da sociedade os elementos que considera essenciais, e aplica-os em retorno, socorrendo-se dos assuntos que ouve, das características estéticas e dos tons que observa, e ainda das texturas que sente. IMBONDEIRO, é o título do mais recente rebento expositivo deste artista. Um termo vernacular, que em Português clássico diz-se embondeiro, os botânicos chamam de – baobá, os Umbundu de – omukwa, entre os Kimbundu – mbondo e os Kicongo chamam de – nkondo, sem desprimor das designações noutras línguas nacionais.

Dada a existência e importância deste elemento da flora em todos os quadrantes do território angolano, e por se tratar de um tema pouco explorado entre nós, este tema é sem dúvidas uma eleição bem-sucedida deste autor. Nesta sua última tendência eclética da actividade plástica, este acto no meu ponto de vista, constitui um grande tributo aos embondeiros que com os seus grandes potenciais mitológicos , medicinais, alimentares, socializantes, ambientais e ecológicos, e também elementos de conceptualizações estéticas. Tal como no caso vertente, integrado pelo artista através de formas bastantes sintéticas, mas igualmente extravagantes, com técnicas vanguardistas, num mundo contemporâneo, onde tudo parece já inventado, mas na realidade, ainda há muito por se percorrer. A maneira desconstrutiva como este autor aborda os embondeiros, partindo de um modo muito singular, o quadro morfológico dessas formas esguias, fazem – me lembrar o grande pintor lendário Wilfred Lam, também com origem africana, nascido em Cuba, e na búsqueda de outros horizontes, atravessou o Oceano Atlântico e fez carreira com sucesso na Europa, socorrendo-se das influências dessa tríade: Africa-América-Europa. Os trabalhos de Hildebrando de Melo, em contraponto às regras convencionais da Perspectiva propriamente dita, os mesmos irrompem com os ditames da convergência, do encurtamento e da diminuição das figuras. Fá-los intencionalmente incutindo outras maneiras interpretativas do modo de se observar a paisagem dos embondeiros.

Finalmente a minha palavra de apreço à este artista nascido no Huambo, que se condimenta em Luanda, vai ganhar outras experiências em vários países Europeus, como Portugal, Inglaterra, Espanha e Holanda, e hoje transformado num cidadão do mundo, que expõe com frequência no País e além fronteiras. E só não exibiu ainda os seus trabalhos na maior parte dos países, porque os seus anos de vida, todavia não permitem tão notável proeza, mas a seu tempo fará.

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