Por Ângela de Branco Lima Mingas, Luanda, Angola. Arquitecta, Antropóloga
Os esquiços do vazio são um conjunto criado para além da percepção visual do mundo bidimensional do desenho.
Percebi outras dimensões e nessa experiência sensível, nesse jogo de sentidos, o traço irreverente faloume de materialidade, ritmos, inércia, movimento e com algum cuidado até de sons e silêncios. Essa dimensão lúdica do objecto imaginado através do desenho, permite-me falar desta obra, descrevendo as diferentes escalas de percepção do conjunto que de todo é homogéneo e que no meu olhar de arquitecta escondem objectos adormecidos, esperando um momento para “existirem”.
Esta intenção tridimensional é possível na obra através de três elementos que fazem de cada uma das peças um ponto de partida;
A localização; Os esquiços do vazio são impositivos, centrais na sua colocação no campo do traço. Afirma-se sem timidez. Está ao centro, é a origem! As relações espaciais;; As múltiplas relações que os “vazios” têm entre si sugere a lógica arquitectónica de público, semi-público, semi-privado e privado. A Geometria; A predominância de formas puras e de eixos de força representando movimento puro. Ver este trabalho na perspectiva arquitectónica é um impulso irrefreável. Para nós, arquitectos, o vazio é o ponto de partida do processo criativo e por isso um elemento funcional e simbólico. Funcional porque é estabilizador do duro exercício da construção e simbólico pela dimensão vivencial que lhe está destinada desde o primeiro instante da criação. Essa última característica, é propriedade exclusiva da arquitectura em relação às demais artes, ou seja, a fruição é vivencial e não contemplativa.
E quase como um ritual que começa no desenho, o traço cria vazio, o vazio cria espaço e o espaço é a máxima dimensão da arquitectura quer seja entendida como sagrada ou profana.