Por Manuel Dionísio, Luanda, Angola. Jornalista, Critico de Arte, Escritor.
Diz-se Específico o que é atinente a um determinado facto, concreto ou virtual. É uma característica, uma qualidade que a um factor ou padrão confere espécie.
Mas pode também ser uma mais elaborada e complexa amálgama de corpos, objectos, postura e encantamentos, como a nova proposta de Hildebrando de Melo, saída da sua fecunda oficina de ideias, bem no bulício do coração da baixa Luandina. Com ele, as coisas podem suceder sem mais delongas, com um brusco e incisivo telefonema anunciando um novo projecto. HM dá as respostas aos porquês com o portfólio da sua intensa actividade de pesquisa, numa audaciosa mas planeada síntese do que até agora foi apresentado.
O final do século passado assistiu a um processo sem precedentes de mudança na história do pensamento e da técnica.
Ao lado da aceleração avassaladora nas tecnologias de comunicação, de artes, de materiais e de genética, ocorreram mudanças paradigmáticas no modo de se pensar a sociedade e as instituições.
No que diz respeito, o último quartel do século passado foi ainda e mais particularmente tumultuoso, com a independência a obrigar a uma mais profunda reflexão sobre o homem e a nação, os factores sociais e económicos, o papel do estado na vida do indivíduo, e a forma como o conjunto se espelha nas Artes, seus novos discursos afirmações.
Hildebrando insere-se como protótipo de inquisidor dos novos tempos. Um homem ajustado às interrogações que nos assaltam quando pensamos na razão de ser das coisas. Como elas se nos apresentam. E não são fáceis.
A modernidade que pontificou, dominantemente todas as correntes de pensamento, estéticas, literárias, artísticas e científicas durante mais de um século, é agora criticada em seus pilares fundamentais, como a crença na verdade, alcançável pela razão, e na linearidade histórica rumo ao progresso.
Para substituir estes dogmas, são propostos novos valores, menos fechados e categóricos. Surgiu a pós-modernidade auto-anunciando-se. Mas desde a década de 1980, desenvolve-se um processo de construção de uma cultura global, um verdadeiro sistema cultural ajustado ao mundo resultante da globalização.
É neste preciso instante que o conceito mais Específico de contemporâneo ganha forma, luz, cor, sombra, movimento e até, sabor. Projecto de clara impedância contemporânea. Específico e um assalto a todo esse conjunto incidências de e para o homem no século XXI, com a passagem das relações de produção industriais para as pósindustriais, baseadas fundamentalmente em serviços e trocas de bens simbólicos ou abstractos, como a informação e circulação de “dinheiro“ nos caminhos virtuais da especulação financeira. Neste caso, ela seria de distribuição desigual: realidade já presente em algumas regiões e ainda muito distante para outras, pois a organização das relações de produção não se da de forma homogénea – ainda – em todas partes do mundo.