Eu sou personificação duma criança chamada Hildebrando, que na minha meninice construía estradas de areia para me entreter com os meus carrinhos e os insetos que apanhava. E fazia despoletar toda uma narração à volta dessa brincadeira.
Teve grande relevância a guerra e o estado de terror que as pessoas viviam na minha cidade, quando fui para a Europa com cinco anos recordo-me dos cadáveres espalhados à chegada do aeroporto, estes acontecimentos estão sempre presentes na minha memória, são como ondas, vão e vêm.
Desde tenra idade que questiono a existência, apoquenta-me a ideia de onde tudo surge, a vida, a natureza. Sempre tive o desejo querer ver Deus! Qual será a sua fisionomia, a sua característica? É esta uma das procuras no trabalho que desenvolvo, depois da expressão o que vem? Algo se manifesta mas não sei bem o que é, fico preso nisso, às vezes expande, às vezes amorfo. Então dedico-me a isto e impus-me a missão de questionar aonde nasce a vida, pintar, praticar, experimentar, experienciar, a origem de todas as coisas.
Quero tentar ir além do imaginário humano, aonde o ser humano em pensamento ainda não chegou ou nunca esteve, a descoberta de novas paragens, um sitio novo na mente. A intuição para atravessar fronteiras superar-me a cada trabalho, gosto de tratar a pintura como um organismo vivo, como um vírus que cresce, muta-se, divide-se, desintegra-se, agrega-se, e que em termos científicos se hospeda. Gosto de analisar a condição humana, de observar a espécie humana, mas na condição de vírus que precisa de proteínas para viver, o confronto com a terra pela busca de alimentos. A fome, as Doenças, os desastres naturais, Deus.
21 de Abril, 2022